Stay and help me to end the day...

Manhã de segunda-feira. Não muito cedo, afinal nunca fui madrugador. Mas tinha que estar de pé e “disposto” para as atividades cotidianas. Estas manhãs de segunda sempre me fazem lembrar de Bukowski:

"Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama,vestir-se, alimentar-se à força,cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?"

Mas lá vou eu para outro desses dias, então nada melhor do que começar com uma música, no carro, a caminho do trabalho. Penso logo em acordar meus neurônios de vez com um “Welcome to the Jungle” ou um “Wholla Lotta Rosie”... mas estranhamente fui de Pink Floyd, com Time:

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way.
(Vão-se os tiques-taques os momentos que formam um dia monótono
Você enrola e desperdiça as horas de um jeito qualquer)

The Dark Side of the Moon é um álbum perfeito, fantástico. Impossível ficar indiferente a músicas como Time, The Great Gig on the sky, Eclipse e Brain Damage, minhas preferidas do álbum. Mas a seqüência do álbum, suas letras, as experimentações e toda a estrutura sonora o torna único, sem seguidores (Radiohead? Flaming Lips? Menos, bem menos) e até mesmo quem não entende inglês sabe que está ouvindo algo especial, diferente.



O conceito do album é psicológico. As pressões da vida moderna, insanidade, consumismo, existencialismo...e como tudo isso afeta as pessoas e suas relações, marcadas hoje pelo individualismo e indiferença, em uma sociedade da qual os sociólogos e intelectuais gostam de chamar como "sociedade pós-moderna" ou até mesmo "sociedade do conhecimento"( embora eu discorde um pouco deste último termo, mas é outra história, deixemos de lado).

Um dos gênios que auxiliaram na feitura desta obra-prima da música de todos os tempos ( sim, quem está escrevendo aqui é um fã incondicional da banda, para quem as letras sobretudo de Roger Waters possuem uma carga significativa enorme!) morreu hoje, dia 15 de Setembro de 2008, aos 65 anos, vítima desse flagelo que é o câncer.

Richard Wright era mais que um tecladista. Era o "lado suave" de um Pink Floyd marcado pelo amargor das letras de Roger Waters, da guitarra por vezes viril de David Gilmour e da marcação certeira da bateria de Nick Mason.


Wright era também um dos membros mais queridos pelos fãs do Pink Floyd e sua contribuição nos teclados é extraordinária. Impossível imaginar "Shine on Crazy Diamond", "Alan's Psychedelic Breakfast" e “The Great Gig in the sky” sem suas notas.






THE GREAT GIG IN THE SKY – PROCESSO DE CRIAÇÃO

Rick Wright, em contraste, passou muitas horas aperfeiçoando o interlúdio instrumental que ainda era conhecido alternadamente como “mortality sequence” ou “religious theme”. A parte tocada no órgão nos shows iniciais de Eclipse, porém, foi colocada de lado: em vez disso, Wright surgiu com uma peça tocada no piano que era um pouco mais convencionalmente floydiana, com espaço para bateria, baixo e órgão. Como forma de juntá-la à musica que a cercava, a passagem mais longa ecoava Breathe. (...)

Por sua vez, aquela parte assumia um crescendo tumultuoso e depois cedia para sua passagem mais impressionante: o período de calma portentosa que chegava depois de dois minutos e meio. Se inicialmente tencionava evocar a morte, Wright sugeriu depois que tal idéia estava longe de seu pensamento: “Quando a compus, não pensei ‘isso é sobre a morte’. {Se o tivesse feito] não creio que teria composto aquela estrutura de acordes.”

Segundo Alan Parsons, Rick Wright gravou a sua parte isolado do restante dos colegas. “Rick estava no estúdio no 1, tocando num daqueles pianos de cauda, e a banda estava no estúdio no 2. Nós o enganamos: em vez de a banda tocar de verdade, tocamos a gravação em fita de uma tomada anterior. Não havia meios de Rick notar a diferença. Então botamos a fita para rolar e ficamos à espreita atrás da porta. Quando ele ergueu os olhos depois de terminada a tomada, todo mundo estava parado lá, olhando para ele. Pareceu um bocado surpreso. Éramos realmente um bando de garotos, e fazendo travessuras”. Àquela altura, a peça foi considerada um sucesso – “uma das melhores coisas que Rick já fez”, na estimativa de Roger Waters.
The Dark Side of The Moon – os bastidores da obra-prima do Pink Floyd. John Harris. Jorge Zahar Editor

Interessante eu ter escutado “Time” logo pela manhã e ter a notícia da morte de Rick Wright à tarde. Uma das passagens da música diz o seguinte:

The sun is the same in a relative way, but you're older

Shorter of breath and one day closer to death.
( O sol é relativamente o mesmo, mas você está mais velho,
Com o fôlego mais curto e a cada dia mais próximo da morte)


O mais interessante ainda foi ter conversado, à mesa, durante o almoço, sobre a fugacidade do tempo. Estamos na metade de Setembro e em breve será Dezembro. Os anos passam e mal “vemos”. Parece que o dia nunca é suficiente para a quantidade de tarefas e afazeres. Bate perfeitamente com o que Waters escreveu e Rick cantou neste trecho:

Every year is getting shorter, never seem to find the time

Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
(Cada ano está ficando menor, nunca parece encontrar tempo
Planos que também não deram em nada ou meia página de linhas rabiscadas)

Perdemos ( digo em relação aos fãs, talvez para quem não goste da banda a morte de Wright não tenha nenhum significado e até haverá quem diga “antes ele do que eu”) não apenas um grande instrumentista, um grande músico, mas também o sonho de rever, nem que fosse em uma esporádica apresentação como no LIVE 8, David Gilmour, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright juntos executando alguma peça maravilhosa de “The Dark Side of the Moon” ou “Wish you here”.

Shine on, Richard Wright!

Mais um pouco de Richard Wright, ao vivo com David Gilmour em 2006:

10 comentários:

  1. Show de bola.......É o que eu disse na comunidade, pena que são os nossos ídolos que vão primeiro, tem um monte de político merecendo o Limbo eterno..............que o Rick descanse e curta muito Rock n' Roll......hauhauhauhauha

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  2. Não conheço nada de Pink Floyd. Na verdade, meu conhecimento sobre eles se resumem a "Another Brick In The Wall". Que é uma música boa, eu sei, mas, não fico ouvindo. Ainda não surgiu aquela vooooontade de conhecer a banda, mas, quando surgir, digo o que achei à você ;D

    Meu despertador é Nirvana, seguido por outro do Franz Ferdinand - senão, eu não acordo. Mas, já colocar uma música boa no despertador do celular já ajuda a ter um bom dia.
    Antes era 'Beautiful Day' do U2, porque uma amiga disse que era ótima você acordar cantando 'it is a beautiful daaaaay', mas, em poucos dias cansei da voz do Bono e de imaginar aquela criatura me acordando...

    De qualquer forma, os meios sonoros são importantissímos pra nós.
    Eu vou ao colégio com o player no ouvido, mas, o taxista sempre insiste em colocar muito alto programas do tipo 'Balanço Geral da Manhã'...coisas do tipo. Fazer o quê, né? =P
    Pelo menos fico sabendo das notícias de uma forma diferente e com fundo musical ao meu favor ;D

    Só pra dizer que eu tirei os comentários do meu blog o/
    Mas, se quiser comentar alguma coisa ainda, sobre texto...ou qualquer outra coisa, o e-mail tá lá do lado e o orkut tá aí também. É a primeira 'mel ina =)' que aparece :D
    De qualquer forma...tirei os comentários porque acho que gosto da idéia de escrever, escrever e não ler. Não que eu não goste de ler o que as poucas pessoas dizem, mas, me sinto mais dona das coisas assim =P
    Provável que eu coloque-os novamente daqui há alguns meses...foi assim da última vez.

    De qualquer forma...chega de nhe nhe nhe =P

    bom início de semana ;)
    ;*

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  3. concordância péssima...desculpe, é a hora...e o sono =P

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  4. Menino, eu AMO (assim, com letra maiúscula) o Pink Floyd.
    The great gig in the sky é a música que coloco alta, no carro ou nos fones e fico repetindo.
    Sem parar.
    AMO.

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  5. Boa homenagem ao Wright, Groo. Que vimos pouco no noticiário, inclusive. A Folha, infelizmente, só deu uma notinha minúscula. Quero ver como será numa Rolling Stone da vida.

    Mas eu já não tiha esperanças de vê-los reunidos ao vivo, depois de todo o tempo que estavam sem fazer shows. Quando o Waters veio ao Brasil (há uns dois anos), pensei seriamente em ir vê-lo, mas estava muito sem grana para o preço do show. Se tivesse sido um show dos outros três grandes (Pulse! Ô CDzim foda!!), eu teria pagado apesar do preço.

    De todo modo, é isso. "Time" e Guimarães Rosa já dizam: quem não morreu, está morrendo. O tempo está voando, estamos envelhecendo logo e meus vinis (!) do Floyd logo pararão de rodar.

    E, como já havia percebido Cazuza, tods os meus heróis morreram de overdose, todos os meus ídolos estão sumindo. Ainda bem que restam suas obras, que não morrerão nunca (para mim).

    (Ah, e bela sacada a mistura da letra de "Time" com sua vivência nostálgica de Rick Wright!)

    bjs

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  6. Aliás, já que estamos falando do Tempo, até o Tamos com Raiva um dia acaba...

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  7. Verdade, Cris. Vamos ver como a RS tocará no tema.

    E nem me fale do show do Waters. Que ironia vê-lo cantando "Money" e eu sem um puto pra assistir ao show! rsss

    Os caras bons estão indo embora, Cris. Quem vai sobrar? Wright foi embora na Inglaterra, Fausto Wolff foi embora aqui no Brasil...é a vida, mas às vezes pensamos o quanto pode ser injusta...

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  8. muito legal o texto !!! Pink Floyd é fantástico !! Parabéns pelo blog..
    Bruno.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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