Aproveitadores da tragédia em Santa Catarina

O telefone toca e do outro lado da linha uma pessoa identifica-se como representante da Defesa Civil de Santa Catarina e pede doação em dinheiro para ajudar as vítimas das chuvas e desabamentos no estado. A pessoa fornece o número de uma conta para depósito ou manda um motoqueiro buscar o dinheiro no endereço que o doador fornecer.

Este é apenas um dos vários golpes que vem sendo usados em nome da tragédia em Santa Catarina por aproveitadores que enxergam uma oportunidade de lucrar alguns trocados com a boa vontade da população.

Estou falando em golpe e de aproveitadores porque deparei com uma notícia que precisa ser mais apurada e merece maiores detalhes. Vou reproduzir um trecho aqui:

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) negou que esteja fiscalizando a campanha de arrecadação de dinheiro promovida pela Record para reconstruir casas afetadas pela chuva em Santa Catarina, diferentemente do que a emissora vem divulgando.

A informação é do jornal Folha de S.Paulo, que continua:

Desde a última sexta-feira (28), a emissora divulga o número de uma conta bancária do Instituto Ressoar (ONG que pertence à TV) para que os telespectadores façam doações. Para dar credibilidade à campanha, a rede informou durante a programação que os gastos seriam auditados pelo Ministério Público.

O próprio MP, no entanto, esclareceu que não cabe à entidade fiscalizar esse tipo de campanha.

Seria esse outro trambique da IURD? O jornal estaria mentindo? No site do Instituto Ressoar não há nenhum esclarecimento (até agora, 02/12) sobre a nota divulgada pela Folha de S.Paulo. Há uma espécie de “prestação de contas” com o montante arrecadado e de quantas casas populares serão construídas (ao custo de R$ 15 mil cada uma).

Há quem possa pensar o seguinte: o que importa é que a igreja e a emissora estão ajudando as pessoas em Santa Catarina.
Toda a ajuda às pessoas será muito bem-vinda. Mas precisa divulgar uma informação que não é verdadeira apenas para conferir credibilidade ao movimento? Se não havia o que desconfiar da ação da IURD através do instituto dirigido pelo pastor Ivanildo Lourenço, o comunicado do Ministério Público termina por “queimar o filme” da emissora, do instituto e da igreja.

Não é a primeira vez que a emissora tenta manipular dados e informações. Neste ano a emissora já manipulou grosseiramente gráficos do IBOPE para induzir os telespectadores que estava “encostado” e “ultrapassado” a emissora líder, no caso a Rede Globo.

Mas vamos ser sinceros: não achem que a emissora e a IURD estão fazendo isso por puro altruísmo e movidos pelo espírito cristão. Quem conhece as práticas da igreja sabe que os métodos empresariais e financeiros dão o tom entre os pastores e bispos. E o “SOS Santa Catarina” cheira sim a oportunismo de uma bem tramada estratégia de marketing social ( e nisso há semelhanças com o “Criança Esperança” da Rede Globo). Faz bem para a imagem tanto da emissora quanto da igreja, que tem dois alvos: a emissora concorrente e a Igreja Católica.

“A Globo e a Igreja Católica não fazem nada, pelo menos eles da Universal fazem alguma coisa, seja lá o modo como fazem”. Se você pensa assim significa que a estratégia da Record e IURD funcionou. E vem funcionando.

Em Salvador a TV Itapoan, emissora que é afiliada da Record, vem fazendo campanha maciça para arrecadar roupas, alimentos e dinheiro para o SOS Santa Catarina. E é grande a quantidade de doações.

Repito: não há mal nenhum em ajudar. Há vários modos de se ajudar as vítimas em Santa Catarina. O problema é que a pouco mais de 100 km de Salvador há pessoas que sofrem com a seca e não tem TV Itapoan, não tem Record, não tem Ressoar de trombetas, não tem IURD, não tem nada. Só a bolsa-família para aliviar um pouco o sofrimento de quem vive no semi-árido. E é na Bahia e no Nordeste: só em Pernambuco já são 390 mil pessoas sofrendo com a seca. É uma catástrofe natural, mas pouco lembrada.

E, quando chove forte, desaba quase tudo. Já ouviu falar do município de Coração de Maria, a 104 km de Salvador? Pois é. Clique AQUI para saber o que aconteceu com a cidade.

QUEM QUISER AJUDAR
Como mais uma vez a IURD demonstra não ser muito confiável, o portal TERRA divulgou uma lista de entidades e canais pelos quais as pessoas podem fazer suas doações para Santa Catarina. Além disso, há o próprio site da DEFESA CIVIL DE SANTA CATARINA que disponibiliza informações para os doadores.

RECOMENDAÇÃO
Recomendo entusiasticamente a leitura do blog “Antes que a Natureza Morra”, que traz informações bastante interessantes e pouco divulgadas na “grande imprensa” sobre os descasos ambientais em Santa Catarina. Leia com atenção a postagem “o outro lado do drama em Santa Catarina”. Obrigatório. Luís Nassif também abordou o assunto e também o site O ECO traz uma matéria reveladora sobre Santa Catarina.


Aos poucos vamos pinçando informações aqui e ali apenas para comprovar o óbvio: as políticas ambientais no Brasil são tratadas como lixo. O terreno é fértil para ONG's picaretas ( e como tem ONG picareta no Brasil principalmente pelos lados da Amazônia) e aproveitadores de todos os tipos.

6 comentários:

  1. Então.
    Difícil comentar algo além de: concordo!
    Fico olhando, vendo, enxergando toda essa manipulação e apelo grotesco, além de "manda chuvas" utilizando sofrimento para bem próprio, pois sempre que se aparece a imagem da tragédia, em seguida, se apresenta grande empresa vendendo seu produto. Isso! Rende comercial, a TV ganha com o infortúnio.
    Que saudade de te ler.

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  2. Estava pensando justamente isso.
    Ajudar é sempre preciso.
    Mas a quem e como é a questão.

    Já viu o filme "Quanto vale ou é por quilo?"
    Passei em sala dia desses em algumas turmas que trabalham com o Terceiro Setor.


    Beijo.

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  3. Muito bom o texto,
    infelizmente as pessoas ainda caem nesses golpes de telefone, que sempre são discutidos na mídia.
    Bom também o Ministério Público ter esclarecido que não fará a fiscalização do dinheiro, li ontem no Folha de São Paulo que eles contrataram um empresa pra fazer a auditoria, esperamos MESMO é que esse dinheiro vá para o lugar certo.
    Muito bem lembrado a seca também, ontem estava conversando sobre isso, acho que a questão é que o Nordeste sempre fica esquecido, a mídia não aborda tanto como o Sul.
    Beijos.

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  4. Mau caratismo diante de uma tragédia como a ocorrida em Santa Catarina sempre existiu, ajudar em tais casos é sempre um dever, mas temos que pesquisar e muito antes de fazê-lo, mas serve também para que vejamos o quanto o Estado é ineficiente e omisso; é muito cômodo para eles deixarem que a boa vontade do cidadão resolva o que o Estado tem por obrigação fazer.

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  5. Tais tragédias, tão comuns também em regiõs aqui do Rio onde vivi, parecem firmadas pelos programas políticos. "Não, deixemos este bairro assim mesmo para quando as chuvas chegarem, decretarmos estado de emergência ou calamidade para adquirirmos o extra para as festas de fim de ano

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  6. Groo.
    Final de ano é sempre punk rock.
    Acho que com o tempo, a gente pára de resmungar. :)
    E, adicione, sim. :)

    Beijo.

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