Celular


lula-lá-lá...

CELULAR

Escola na periferia de Salvador. Turma do período noturno. Gente esforçada, trabalha o dia inteiro, dá duro e estes senhores e senhoras ainda encontram disposição para estudar à noite.
Batem à porta e entra um sujeito vestido como pastor, mas que na verdade é


- representante da ..........informática, pessoal! Quem aqui sabe “mexer em informática”?
O pessoal não se anima muito...é sexta-feira à noite.
- É, pois é, pessoal, quem não souber “mexer em informática” não tem vez no futuro. Hoje pra tudo precisa de computador!
O “pessoal” continua “animado”.
-Então, pessoal, pensando em aliar qualidade e preço acessível a todos, a .........informática tá oferecendo o curso básico de informática, com Windows, Internet, Excel, Word e outros programas. Vocês sabem quanto custa um curso destes por aí?
Silêncio um tanto constrangedor. Mas o sujeitinho persiste:
-Então, é mais ou menos 60 reais por mês! Mas nós, da ..........informática estamos com essa promoção para alunos desta escola! Basta apresentar este cartãozinho aqui e vocês pagarão apenas 20 reais por mês! E a matrícula é grátis! Pode ser pra você ou pro seu filho, basta levar este cartão. Alguém se interessa?
Apenas duas pessoas erguem a mão, solicitando um cartãozinho. Os outros continuam com aquela aparência “animada”. Pelo menos até o sujeitinho dar a senha:
- Ah, pessoal, tinha esquecido: Quem fizer a matrícula nesta segunda-feira, até às 18 horas, leva na hora um celular!
Foi algo parecido como um choque elétrico na sala:
- Epa, um celular?
- Que celular é esse, irmão?
- Tem que fazer o que mesmo?
- Onde é que tem que ir?
- Ô, me dá um cartão desse aí, rapaz!

Não se sabe se era verdade ou mentira a promoção do celular ( ou seria do curso?), afinal as pessoas que pegaram o tal cartãozinho não foram até o centro da cidade para saber. Talvez não tenha dado certo porque o tal celular não deve tirar foto, não manda e-mail, não passa DVD, não dança, não pula, não tem TV....

CELULAR II

Engana-se quem pensa que só os mais “abastados” possuem celulares cheios dessas frescurites modernosas ( fotografia, e-mail,espelhinho para maquiagem, e outros trecos). Afinal, como disse um carnavalesco, pobre gosta de luxo, também, oras. E celular que serve apenas para se comunicar com outra pessoa está ultrapassado, certo? Quanto mais cheio de frescurites, mais caro e “mais moderno”.

Novamente, na periferia de Salvador. Novamente, uma escola. Desta vez, turno matutino. Crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Na 7a e 8a série contam-se nos dedos da mão ( só uma) quem NÃO tem celular. E o diretor advertiu: Não trazer celular para a escola, pois a escola não se responsabilizará por perda ou até roubo do aparelho.

Ora, numa destas manhãs, uma garota da 7a série entra na diretoria, aos berros:
- Diretor, roubaram meu celular!!!
- Calma, sente-se aí e conte a história direito...
- Tava no meu bolso de trás e agora na hora do intervalo roubaram!
- Você tem certeza disso? Mas o que foi que eu disse logo no ínicio do ano sobre celulares?
- Ah, mas não pode roubar aqui na escola!
- Sim, mas o que você quer que eu faça? Posso mandar fechar o portão, mas quem roubou já deve ter ido embora; Revistar as mochilas? Não posso fazer isso, pois posso ser até processado.
- Oxe, e vai ficar assim, é????
- Você não quer que eu pague um celular novo pra você, né? Eu falei: não trazer celular.

E a menina saiu, “indignada”.

Volta 20 minutos depois, desta vez com a mãe a tiracolo, que exige explicações.
- Certo, agora conte sua história novamente aqui pra mim, na frente de sua mãe.
- Eu tava no intervalo e o celular tava na mochila e...
- Peraí, mas não estava no seu bolso?
- Eu acho que deixei na mochila, na sala de aula.
- Tá vendo, mãe? A senhora repare que ela nem sabe direito como aconteceu o roubo.
E a mãe, calada.
- Mas eu avisei, de sala em sala, para que evitassem trazer este tipo de aparelho para a escola, pois não temos como, não há modo de “vigiar” material de aluno. O aluno tem que cuidar de seu material, a escola não pode fazer tudo.
E a mãe toma a palavra:
- Quer dizer que vai ficar por isso mesmo?
- Minha senhora, o que se pode fazer num caso desses?
- Quer dizer que vocês deixam ladrão entrar neste colégio!
- Minha senhora, deixe um lápis em escola, em posto de saúde para a senhora ver o que acontece. Imagine um celular!
- E você não vai fazer nada?
- Não. Já disse mais de duas, três vezes: a escola não se responsabiliza por material de aluno.
- É porque não é com você!!! Se fosse com você revirava essa p**** e achava!!! Porque não revista as mochila de todo mundo??
- Minha senhora, se eu fizer isso posso ir preso. E segundo ,mantenha a calma, pois estou conversando com a senhora e...
- Que calma p**** nenhuma!!! É porque não é com você, que faz que nem a gente, dando um duro desgraçado pra pagar 400 reais num celular bom! Queria ver se fosse você! Deixa ladrão entrar aqui!
- Minha senhora, agora já está complicando...
- É isso mesmo, eu vou telefonar pra Valera*, vou denunciar essa escola pra Valera!!!

E mãe e filha saem, bufando de raiva e tecendo “elogios” ao diretor, à escola e a quem aparecesse pela frente. 400 reais por um celular. Bacana. Pelo o que se sabe, o pai é pintor. A mãe se vira com salgadinhos. 400 reais por um celular. Eu até sei o porquê, mas deixa pra lá...

* Valera: na verdade, é Raimundo Varela, radialista e apresentador de programas populistas em TV e rádio de Salvador. Herói das classes C, D, E, F, G, H...Z, dá porrada na mesa, todo os “direitchos” pro povo, grita e diz-se independente ao melhor estilo demagógico e populista, peita podersosos...claro, desde que esses poderosos não sejam do grupo de painho ACM...aí o sujeito fica manso, manso....

D'OH!


Assiste Jornal Nacional? Então, és um Homer Simpson da vida! Dá uma olhadinha neste link para saber o que o editor-chefe William Bonner pensa sobre você, querido telespectador:
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=3590

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