Processo Bokanovsky


Os livros e o barulho intenso, as flores e os choques elétricos – na mente infantil essas parelhas já estavam ligadas de forma comprometedora; e, ao cabo de duzentas repetições da mesma lição, ou de outra parecida, estariam casadas indissoluvelmente. O que o homem uniu a natureza é incapaz de separar. - Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam de um ódio “instintivo”aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida. – O Diretor voltou-se para as enfermeiras. – Podem levá-las.

Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley


Antes da reflexão em si, convido-os para analisarem 3 situações reais.

Professor de Inglês passa trechos do filme “The Wall”, do Pink Floyd para turma de 1º ano do ensino médio (colegial); Há cenas de um professor reprimindo alunos, espancando-os e humilhando-os na sala de aula. Ao término do filme, o professor pergunta à sua turma o que eles achavam: se era melhor estudar nos tempos atuais ou há 40 anos, quando os professores utilizavam até violência física em alunos que “não aprendiam”. Para surpresa do professor, a maioria da sala preferia o tempo passado, pois daquele jeito “aprendia, mesmo”.

Professora de História passa o filme “A lista de Schindler” para o 3º ano do ensino médio. A temática do filme não sensibiliza os alunos, que se portaram como se estivessem assistindo a uma comédia. “Eles riam de tudo, até das cenas mais fortes!”, afirmou, revoltada e perplexa, a professora.

Professor de filosofia, ao apresentar o assunto sobre “Existencialismo” ao 2º ano do ensino médio lança a seguinte pergunta: “É certo ou errado matar?”. Notem que ele não define quem ou o quê. Para alguns alunos, “dependia do crime”, se fosse algo grave, tinha mais que matar, mesmo; Outro grupo achava que tinha que matar tudo quanto é ladrão. “Eles falavam em matar com a maior naturalidade”, disse o professor.

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Há muitos estudos que demonstram, ou ao menos tentam, a tênue relação entre mídia e violência. É um tema polêmico. Será certo atribuir à TV todo esse sentimento de violência nos adolescentes?

É assunto para mestrado, e não um simples post no blog. As situações descritas acima são reais, todas passadas em um colégio que leciono. Os amigos com alguma lembrança devem lembrar que já comentei sobre o filme “The Wall”, do Pink Floyd no antigo blog grooeland.zip.net .

Pesquisas mostram que o adolescente brasileiro passa, em média, quase 4 horas por dia na frente da TV. Basicamente a quantidade de horas passadas em frente à TV é a mesma quantidade de horas nas escola. Mas a TV é sedutora. A TV educa de forma eficaz. A frase atribuída ao ministro das comunicações de Hitler, Goebels, confirma isso: Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade.

Quatro horas na frente da TV para seres na fase da descoberta e ainda com personalidade em formação pode ter vários efeitos. Um deles é a banalização da violência. Mas não o pior. Creio que a coisa torna-se perigosa quando este adolescente, já narcisista e com “instintos consumistas”, chegue à conclusão que a violência é a única forma de resolver problemas imediatos, como acontece em relação à pena de morte.

A escola pública ( que é a escola ainda democrática, de certa forma) ainda não acordou para este porém. Certo, há todo um histórico familiar e social na vida do aluno que não deve ser desprezado e certamente contribuem para a forma como encaram a violência.

Mas urge fazer algo. Os jovens estão condicionados a aceitar violência, gravidez precoce e drogas como situações comuns e até engraçadas. Famílias em ritmo de extinção; Educação brasileira privatizada; Governo inoperante ( as TV’s são concessão pública. O que o governo estaria esperando?); Falta de perspectivas; Utopias finadas.

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Não sei porque vem-me à cabeça Sex Psitols, com Johnny Rotten berrando: no future! no future! no future for you!

Um comentário:

  1. Lembro-me dos três anos passados no ensino médio: poucos alunos 'queriam alguma coisa'.

    Boa parte estava lá para bater papo, paquerar o colega de sala na hora do intervalo e só.

    Todas as vezes em que um professor passava atividades voltadas para o despertar social, era uma dificuldade tremenda chamar a atenção da maioria.

    De lá para cá a coisa não mudou, ou melhor, mudou sim: está mais caótica!

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